Mal começa o ano novo e certamente muitos já estão endividados, pois gastaram demais. Sabemos que o Natal deveria ser a festa do nascimento de Jesus e comemorado com ênfase no sentido espiritual. Infelizmente, porém, passou a ser uma data dedicada ao consumo e nos últimos anos antecipada com a onda das chamadas Black Fridays trazida dos Estados Unidos.
Enquanto lá essa data precede ao Dia nacional de Ação de Graças, um feriado que para os norte americanos é mais importante do que o próprio Natal, aqui não existe nada que justifique promover vendas num mês que naturalmente já é aquecido. Então o que acontece é uma Black fraude, onde muitas lojas aproveitam para jogar o preço pra cima e depois baixa-lo dando um falso desconto.
Os economistas dizem que o que faz uma pessoa se tornar rica ou pobre, não é o quanto ela ganha, mas sim o quanto ela gasta. Esta afirmação é verdadeira se analisarmos a vida das pessoas que têm sucesso financeiro. O que existe em comum na história dessas pessoas é que elas possuem inteligência econômica, ou seja, são capazes de poupar e esperar a ocasião correta para investir.
Podemos entender que a capacidade de poupar nada mais é do que a capacidade de adiar o prazer e resistir às tentações, qualidade de quem tem um bom equilíbrio emocional.
É difícil, porém adiar o prazer em meio a tantos apelos das propagandas que martelam a nossa cabeça o dia inteiro. As compras à prazo com prestações a perder de vista se tornam sedutoras para aqueles que não têm dinheiro, principalmente os mais pobres. O raciocínio é simples: porque esperar se eu posso comprar e desfrutar do bem que eu tanto quero hoje mesmo?
Essa visão imediatista se assemelha à visão infantil que tem no momento presente a única realidade palpável, não considerando o amanhã. Talvez as pessoas estejam descrentes das suas capacidades reais de obterem sucesso futuro e assim, tentam antecipar o ganho aplicando o ditado que prega que mais vale um peixe na mão do que dois na água. Ademais, para quem já sofreu privações, fica difícil adiar o prazer quando ele está bem ali a nossa frente, bastando digitar a senha do cartão de crédito para tomar posse do objeto desejado.
Compramos objetos de reposição das nossas perdas em todos os campos. Como disse uma amiga, não há baixo astral que não se resolva com uma visita ao shopping. Nesse sentido, estamos substituindo uma psicoterapia formal por uma shoppingterapia cuja consequência é a compulsão por compras.
Para se livrar dessa compulsão é necessário descobrir o que está por baixo e isso só é possível fazendo uma psicoterapia, mas o primeiro passo é reconhecer-se como dependente e ficar longe das vitrines. Outra medida seria livrar-se da varinha mágica do mal que é o cartão de crédito. Ele realiza sonhos mas cria pesadelos no futuro.
Todos nós ansiamos por algo rico, profundo e duradouro que faça a nossa vida valer a pena. Mas temos que saber que isso não é um produto que se compra em lojas. Talvez ele esteja dentro do próprio ser humano que perdeu o seu verdadeiro ideal e agora busca desesperadamente reencontrá-lo nas lojas como se fosse um objeto.
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