Estamos vivendo atualmente a maior crise hídrica da história do Brasil, mais especificamente do estado de São Paulo. Quem diria que o estado mais rico do Brasil iria passar por algo do gênero? Afinal a região sudeste com chuvas fartas praticamente o ano inteiro estaria imune a problemas de abastecimento e a seca seria um fenômeno restrito ao sertão nordestino.
Mas não custa dar uma olhada no passado e ver que a Campanha da Fraternidade de 2004 trazia como tema justamente essa questão. Naquele ano o tema era: FRATERNIDADE E ÁGUA e o lema: ÁGUA FONTE DE VIDA.
Pois bem o objetivo daquela campanha era justamente conscientizar a sociedade que a água é fonte de vida, uma necessidade de todos os seres vivos e um direito da pessoa humana e mobilizá-la para que este direito à água com qualidade fosse efetivado para as gerações presentes e futuras.
O texto base proposto pela CNBB naquela época já nos ensinava que não se pode separar água e vida pois uma depende da outra, ou seja todas as formas de vida dependem da água. A água, portanto é um bem de destinação universal e o seu uso não pode ser político ou comercial.
Passados dez anos vemos que aquela campanha foi profética pois já alertava para a importância da água e das graves consequências da degradação dos mananciais. Se é pecado atentar contra a vida, então também é pecado poluir rios, destruir nascentes, contaminar lençóis freáticos e depredar mangues, pois estaremos atentando contra todas as formas de vida.
Por outro lado, aqueles que têm o papel de governar não podem tratar esse tema tão importante somente na sua dimensão político econômica, pois água é direito de todos e assim como o ar que respiramos é a condição básica para o estabelecimento e manutenção da vida. Choca saber que de acordo com o Ministério das cidades o Brasil desperdiça 37% de toda a sua água tratada.
Existe um ditado que diz: Deus perdoa sempre, os homens perdoam de vez em quando, mas a natureza não perdoa nunca. Nesse sentido não estaria agora a natureza cobrando o seu preço? Quanto nos omitimos na preservação dos nossos mananciais? Em que medida os interesses políticos e econômicos se sobrepuseram às leis básicas da vida?
Paguemos com resignação a nossa dívida, mas aprendamos a lição. Talvez, possamos tirar proveito disso, pois falta exatamente na história do nosso povo, uma experiência de luta e superação. Afinal, enquanto outras nações tiveram que conviver e ainda convivem com guerras e cataclismos, o Brasil, excetuando algumas regiões como o Nordeste, nunca enfrentou grandes catástrofes. Esse relativo conforto é bom por um lado, mas por outro não coloca a prova a nossa capacidade de resiliência e, portanto, não contribui para o nosso aprendizado de superação de crise.
Se as autoridades não fazem muito, o povo se mobiliza e de todos os cantos surgem novas ideias para economizar e armazenar água o que por si só já é positivo, pois aumenta a nossa consciência a respeito do problema e desenvolve a noção de cidadania.
A situação hoje seria outra se as propostas e reflexões da CF 2004 tivessem sido levadas à sério. Não aprendemos por amor e agora teremos que aprender pela dor. Que assim seja.
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