Postado em | Escrito por: Romildo Ribeiro de Almeida
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A metáfora do chá e a cultura do estupro

A metáfora da xícara de chá usada pela blogueira britânica Rockstar Dinosaur Pirate Princess, nos dá um ensinamento claro e preciso sobre o tema respeito e liberdade.

A ideia é bastante simples: suponha que você convide alguém para tomar uma xícara de chá e a pessoa aceite o seu convite. Nesse caso os dois podem desfrutar da experiência sem nenhum problema, pois houve um consenso entre ambos e não há nada de errado nisso.

Mas se por outro lado, o convidado recusar o convite, você não tem o direito de força-lo a tomar chá e se ele estiver ou ficar inconsciente você deve levá-lo para um lugar seguro e preservar a sua integridade. Mesmo que ele já tenha aceitado anteriormente, ele tem o direito de recusar o próximo convite. Ainda que você fique frustrado, pois preparou aquele chá com tanto carinho, não pode obriga-lo a tomar chá. Tem que respeitar o direito do outro de recusar.

Qualquer criança entenderia esse raciocínio, pois parece bastante lógico e até bobo, mas se trocarmos a xícara de chá por uma proposta de relacionamento sexual a coisa muda de figura. A maioria dos homens carrega uma personalidade machista que vê a mulher como um objeto de prazer e tem dificuldade de entender a diferença entre sexo e sexualidade.

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Quando nos deparamos com uma pessoa seja homem ou mulher expondo a sua forma física, evidenciando pele e músculos, ela está evidenciando sua sexualidade, mas isso não significa que ela esteja se oferecendo para ter relações sexuais. Qualquer ato libidinoso que não tenha o consentimento da pessoa é considerado estupro conforme a lei 12.015 do Código penal brasileiro.

Em 2014 no Brasil, 47.600 pessoas foram estupradas segundo dados do 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Esse número pode ser ainda maior, pois a pesquisa só consegue levar em conta os casos que foram registrados em boletins de ocorrência – estimados em apenas 35% do montante real. Se considerarmos que 65% dos casos não são denunciados, esse número passa dos 130.000.

Por trás desses dados existe um fenômeno social que talvez seja o responsável pelo aumento da violência. Estamos falando da cultura do estupro, uma ideia machista que entende que a vítima é responsável pelo crime. Expressões do tipo: “Sozinha na rua àquela hora, queria o quê?”, “Dançando daquele jeito, esperava o quê?”, expressam bem o que é essa cultura.

Reproduzimos padrões de comportamento que estão enraizados no nosso inconsciente e os transmitimos através de nossas interações sociais realimentando a cultura do estupro. A violência contra a mulher e o desrespeito às minorias é uma questão cultural e não natural.

A boa notícia é que a cultura não é um elemento estático e imóvel. Ela pode mudar, mas para que isso ocorra, é necessária a participação de todos. Famílias, escolas, empresas, igrejas, enfim a sociedade como um todo é responsável e tem que se engajar na luta contra qualquer tipo de violência.

Como cristãos, temos uma responsabilidade maior na promoção de uma sociedade mais fraterna. Vale a pena recordar um trecho da primeira Exortação Apostólica pós-Sinodal escrita pelo Papa Francisco:

“Uma fé autêntica que nunca é cômoda nem individualista, comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium, 183). 

 

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