Um olhar compassivo diante do outro que sofre
Ao digitarmos a palavra transgênero em qualquer editor de texto que tenha correção ortográfica, a palavra sairá grifada em vermelho. Se até os programas modernos de edição de textos não reconhecem essa palavra, o que esperar da nossa cabeça moldada desde os tempos mais remotos e condicionada a considerar só aquilo que nos é familiar?
A verdade é que o drama da personagem exposto na novela “A força do querer”, apesar de ter chocado muitas pessoas, com algumas ressalvas, representa o drama de milhares de pessoas que vivem nessa condição. Todavia, deveríamos ficar igualmente chocados com as estatísticas. O Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de 2014, foram registradas 604 mortes no país. De acordo com pesquisa do IBGE de 2013, a expectativa de vida desse grupo social não passa dos 35 anos, menos da metade da média nacional de 74,9 anos da população em geral. Isso é vergonhoso.
O que vem a ser transgênero? De acordo com o Dicionário Houaiss é um adjetivo utilizado para definir pessoas cuja identidade de gênero (masculino e feminino) é incompatível com aquela atribuída à nascença, identificando-se como pertencentes ao sexo oposto do que possuem. Há casos de crianças transgêneras que vivem de acordo com o sexo com o qual se identificam. Os transgêneros geralmente afirmam terem nascido no corpo errado.
Possíveis causas. A hipótese científica mais explorada aponta para causas biológicas. Segundo o neurobiologista holandês Dick Frans Swaab, professor emérito da Universidade de Amsterdã, a formação dos ovários ou testículos ocorre num momento em que o cérebro ainda não está definido e dependendo de fatores de estresse pode haver discrepância entre o sexo biologicamente definido e a identificação sexual, que é um fenômeno que ocorre no cérebro.
Sendo ou não a identidade de gênero um fenômeno biológico, a verdade é que pessoas estão sendo vítimas de violência. Tão inaceitável quanto exaltar e promover a ideia vulgarizada de que a identidade sexual é uma questão de escolha é demonizar a discussão em torno de um assunto tão complexo e delicado adotando uma postura meramente transfóbica. Precisamos lançar um olhar compassivo àqueles que sofrem e compreender que, independentemente das diferenças, todos somos filhos de Deus.
Romildo R.Almeida
Psicólogo clínico
Deixe um comentário