Antes de começar o Novo, temos que acabar com o velho.
A moda agora é falar do novo normal; esse tema está em discussão em todas as mídias e o objetivo é debater como será a vida das pessoas depois que passar a pandemia. Muitos defendem que várias mudanças acontecerão e afetarão o comportamento das pessoas. Mas, para além da máscara e do álcool em gel, debater o novo normal é partir do pressuposto que existia um normal e nesse ponto não dá para seguir na discussão sem antes fazer uma reflexão. A pergunta é: será que a situação que existia antes da pandemia poderia ser considerada como normal? Vamos refletir um pouco:
É normal viver num país onde 5.653 pessoas morrem de desnutrição por ano segundo dados do próprio Ministério da saúde, uma média de 15 pessoas por dia? É normal que mais de 3 milhões de crianças fiquem fora da escola e tenham que trabalhar para ajudar a família e que ainda existam mais de 11 milhões de analfabetos? É normal que pelo menos 8 milhões de brasileiros nem sequer existam legalmente, pois não têm documento de identidade? (Esse dado ficou comprovado durante o cadastramento para receber o auxílio emergencial)
Talvez não seja normal um país com tantas riquezas, abrigar mais de 50 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza e outros 13 milhões na extrema pobreza, com menos de 1,9 dólares por dia, conforme critério adotado pelo Banco mundial. Também não é normal que 50% da população brasileira não tenha acesso a esgoto e 35 milhões vivam sem água tratada. Um país com altos índices de violência não é normal e constatar que 75% das vítimas de homicídios são negros, torna a realidade ainda menos normal. Espancamento de mulheres, perseguição às minorias, desmatamento de florestas, invasão de terras indígenas, nada disso é normal.
Como falar em novo normal diante de tanta anormalidade? A verdade é que o mundo está doente e não é só de Coronavírus. Então que este seja um momento de mudanças; que essa pandemia provoque uma revolução de pensamento e de valores; que se compreenda aquilo que ficou escancarado nessa tragédia planetária; que se entenda que a saúde tem que ser universal, pois a vida é um direito de todos, independentemente de sexo, credo, raça ou classe social. Enfim que aprendamos que não haverá novo normal sem que acabemos com o velho.
Romildo R.Almeida – Psicólogo clínico
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