Postado em | Escrito por: Romildo Ribeiro de Almeida
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NARCISISMO PARENTAL – A tênue fronteira entre cuidar e prender

O drama vivido pela atriz global Larissa Manoela, amplamente explorado na mídia no último mês, é o ponto de partida para discutir um problema muito comum que ocorre nas famílias. Trata-se da relação de possessão que alguns pais querem exercer sobre os filhos. É natural que alguns pais tenham dificuldade em transferir responsabilidades e, até certo ponto, isso não é um problema. Na maioria das vezes, esse sentimento, logo dá lugar ao orgulho de presenciar o sucesso dos filhos. No entanto, existem casos em que essa relação é carregada de estresse, pois os genitores querem dirigir a vida dos filhos em todos os aspectos, sob a justificativa de que eles são jovens imaturos.

Alguns casos podem evoluir para o Narcisismo Parental, um transtorno psíquico que atua especificamente na relação entre pais e filhos. Narcisismo origina-se do mito grego onde o belo jovem Narciso se apaixonou pela própria imagem refletida nas águas do rio e, por esse motivo, viveu infeliz e sozinho, impossibilitado de se relacionar com outras pessoas. No Narcisismo Parental, o pai, a mãe ou ambos se seduzem pelo papel que representam e têm dificuldade de reconhecer a autonomia dos filhos, pois isto significaria abrir mão da própria superioridade pela qual, estão seduzidos.

Na prática, não querem perder o poder que imaginam ter e, por isso, transformam a convivência numa relação tóxica e carregada de estresse envolvendo sentimentos contraditórios de amor, inveja, ciúme e até ódio. Pais narcisistas em geral, são autoritários, egoístas e manipuladores, pois, ao longo do relacionamento com os filhos, desenvolvem essas características como estratégias para manter o poder sobre eles. Quando são contestados ou desafiados, tornam-se agressivos fazendo com que a relação se torne inviável. As consequências não são boas para nenhuma das partes, pois os pais acabam sozinhos repetindo o mito de Narciso. Quanto aos filhos, os danos são ainda maiores, pois podem desenvolver: baixa autoestima, dependência afetiva, insegurança, depressão, entre outros.

Nunca a carta de São Paulo aos efésios (Ef 4:24) tornou-se tão apropriada ao contexto que estamos vivendo sobretudo nas relações sociais, incluindo as famílias.  Revestir-se da nova humanidade é desapegar-se dos valores materiais, do poder que queremos exercer sobre as pessoas e aprender a viver na humildade. A sedução nos cega tal como no mito de Narciso e nos faz viver aprisionados pelo egoísmo.  A empatia é a porta que se abre para o amor, permitindo viver a bondade de coração, único caminho que pode nos libertar e conduzir à felicidade sustentável e à Salvação.

 

    Romildo R. Almeida – Psicólogo Clínico

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