As crianças estão amadurecendo muito cedo. Este foi o tema do meu artigo anterior. Nele, comentei sobre como a internet interfere na educação das crianças despertando precocemente o seu interesse sexual.
Continuando aquele tema, gostaria de ampliar a discussão mostrando que esse processo de adultização da infância já começa desde o nascimento com os próprios pais.
A ideia da eficiência profissional que parte do princípio de que precisamos estar cada vez mais preparados para o futuro, está criando modelos de educação que destroem a infância porque tratam a criança como se ela fosse um pequeno adulto.
Hoje a maioria das escolas de educação infantil oferece aulas de inglês e informática para crianças a partir dos dois anos de idade. Esse item tornou-se um fator de peso para os pais na hora da escolha da instituição.
As escolas por sua vez, estão se preparando cada vez mais para atender a busca dos pais por um ensino diferenciado que prepare a criança para o futuro profissional. Vemos, então que a lógica que está por trás disso, é a lógica do mercado que valoriza o ser humano somente com base na sua capacidade produtiva.
O interessante é que nunca se vê um pai ou uma mãe reclamar que o filho de dois anos já está aprendendo a ler e já sabe mexer no computador. Pelo contrário, dizem isso com orgulho enaltecendo as habilidades do seu pequeno gênio.
O que, talvez passe despercebido para esses pais, seja que essas qualidades não são propriamente qualidades de crianças e sim de adultos.
Se refletirmos um pouco, veremos que o modelo atual de educação estimula e reforça o desenvolvimento intelectual da criança em detrimento da sua condição infantil.
Esse modelo parece que não reconhece a infância como uma fase importante e necessária para o desenvolvimento da personalidade. É como se a infância fosse um mal que deve ser ultrapassado o quanto antes.
Se a nossa preocupação com a vida se desloca preferencialmente para o futuro, a criança deve se perguntar: E o que eu estou vivendo agora o que é? Um ensaio? Nessa concepção, a vida ainda não existe para a criança, só existirá mais para frente quando ela for adulta.
Vemos então, que a precocidade sexual favorecida pelo acesso a internet, é apenas parte de um processo que envolve outros aspectos. A criança não só amadurece sexualmente mais cedo, mas faz tudo mais cedo deixando a infância para trás, com a nossa conivência e aprovação.
Resumindo, precisamos urgente devolver à criança o seu sagrado direito de ser criança, incentivando-a a brincar mais e se preocupar menos com coisas de adultos. Devemos dar brinquedos que incentivem a fantasia e a imaginação.
Afinal, não dá para imaginar um adulto feliz e equilibrado que não tenha passado por uma infância livre e igualmente feliz.
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