Não é fácil falar em um ano novo cheio de paz e alegria quando o coração das pessoas está é cheio de medo e tristeza provocado pela insegurança que assola o país de norte a sul.
Quando fizermos a famosa retrospectiva do ano, veremos que 2004 foi igual ou pior que 2003 em termos de violência e que este, por sua vez, foi pior que o de 2002, e assim por diante.
A classe média está gastando mais com segurança do que com lazer. Condomínios fechados, equipamentos eletrônicos, guardas e cães por todos os lados, dão a idéia do preço da “liberdade”, que alguns têm que pagar para se sentirem seguros.
É evidente que esse problema não é novo. Há mais de 40 anos, entra governo sai governo e a situação continua a mesma. As autoridades e a opinião pública sempre analisaram a questão de forma parcial, insistindo na tese de que, para acabar com o crime, é preciso mais armas, mais viaturas, mais policiais, caracterizando o tradicional: “bandido é na cadeia”. Será que esta análise está totalmente correta?
A verdade é que só repressão não resolve. Os criminosos mudam seu modus operandi de acordo com a situação. Atualmente o assalto a condomínios de luxo e os seqüestros relâmpagos tornaram-se a alternativa para os bandidos, por renderem mais e trazerem menos riscos.
Por outro lado, é preciso analisar também o contexto em que essa violência ocorre. E aí não sobram margens para engano. No Brasil, existem 24,3 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, e a distribuição de renda é uma das mais injustas do planeta. Com noventa por cento das riquezas nas mãos de poucos, enquanto a grande maioria pena para sobreviver, não dá para achar que o problema da violência se resolverá só com o emprego de força.
Toda essa situação afeta nosso equilíbrio psicológico. As pessoas vivem estressadas com medo, e o medo afeta nossos valores. Afinal, como explicar que um país com noventa por cento do povo cristão não se indigne mais com a fome e a miséria, e a maioria ainda seja favorável à pena de morte achando que ela vai resolver o problema da violência?
Será que a violência vai diminuir em 2005? Infelizmente, só Deus sabe.
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