Feng Shui, Energia e as Eleicoes Municipais
Postado em | Escrito por: Romildo Ribeiro de Almeida
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Uma questão de sorte ou azar?

Será que o leitor já ouviu falar em Feng Shui? Não, não se trata de comida chinesa nem de uma nova marca de sabão em pó. É a nova moda exotérica que está presente em algumas lojas dos shoppings e principalmente na região da 25 de março repleta de materiais como velas, pirâmides, cristais, sinos, fontes, flores secas etc., tudo para fazer arranjos decorativos para serem colocados nas dependências das casas ou dos escritórios.

Mas o que faz do Feng Shui um sucesso de vendas aqui no Brasil, não é a função decorativa, por mais artísticos e bonitos que sejam os arranjos ambientais feitos a partir dessa técnica, mas sim as propriedades energéticas e curativas que os seus adeptos afirmam possuir. Essa crença está identificada com as propostas da Nova Era, movimento espiritualista que se propaga cada vez mais no mundo como alternativa ou resposta à era do pensamento científico que tem marcado a história deste século.

Os profissionais que trabalham com Feng Shui, se fundamentam na milenar filosofia chinesa segundo a qual Feng significa vento e Shui, água. Sendo assim, essas palavras juntas significariam o poder dos elementos da natureza que fluem com grande força de tudo que há na terra, nas pessoas e no universo. De acordo com essa crença filosófica, tudo que existe no mundo, é energia. Essa arte  ensina, então, a organizar a casa, o local de trabalho, o jardim e qualquer outro ambiente, de forma a receber o maior fluxo possível de energias positivas, trazendo sorte e prosperidade a seus ocupantes. Simples, não? Isto não deixa de ser verdadeiro pelo menos para os comerciantes  da 25 de março, já que devem ter alcançado muita prosperidade nos últimos tempos..

Essa mania teria dificuldades de se fixar em alguns países cujos povos possuem uma mentalidade mais racional e objetiva como os alemães e os ingleses, mas pega fácil aqui no Brasil onde predomina a mentalidade mágica. Nós, brasileiros não perguntamos porque isto é assim ou assado. Simplesmente aceitamos as coisas atribuindo, muitas vezes, a culpa pelos nossos fracassos à vontade de Deus, influência dos espíritos, dos anjos, à energia dos astros ou ao azar. Somos conformistas, por isso quando algo dá certo conosco, acreditamos ser devido à sorte que tivemos. Quando algo dá errado, acreditamos que foi puro azar. Sendo assim, estamos sempre em busca de elementos mágicos para atrair sorte e afastar o maldito azar que insiste em nos perseguir. Isso explica por que filosofias como as do Feng Shui fazem sucesso aqui. Enquanto escrevo esta matéria, eis que o Fantástico da rede globo acaba de exibir uma reportagem mostrando “parapsicólogos” fazendo uma espécie de acupuntura nas dependências de uma casa. Explicavam eles que uma casa, a exemplo das pessoas, também pode adoecer bloqueando os fluxos de energia positiva. Munidos, então de instrumentos como pêndulos, aurímetros, estacas e martelo, faziam perfurações no solo da residência “doente” para corrigir os problemas energéticos. É o fim da picada, mas muita gente, com certeza,  acredita nessa bobagem.

Mas vamos traçar um paralelo dessa teoria energética chinesa com as eleições municipais que se aproximam. As condições sociais, não só da nossa cidade, mas também do resto do país, beira o caos em termos de injustiça, violência e corrupção, e não são frutos do mero acaso, da falta de sorte ou ainda do castigo de Deus. Trata-se mesmo é da nossa própria incompetência em escolher nossos representantes. Gostamos do que é bonito aos nossos olhos, do que soa bem aos nossos ouvidos e agrada nossos olfatos. Elegemos os simpáticos, os amigos, os bonzinhos, buscando neles uma energia positiva que não existe, a não ser na nossa ingênua imaginação. Agimos e decidimos muito mais pelos sentidos do que pela razão optando sempre pelo que nos agrada a priori em detrimento do que nos faz bem. O brasileiro se comporta na hora do voto como crianças escolhendo pirulitos.

Resumindo, somos presas fáceis da energia hipnótica, dirigida às nossas mentes infantis, tanto pela propaganda enganosa das crenças filosóficas como as do Feng Shui, como pelos políticos espertos que também querem energizar e harmonizar nossas vidas construindo um autêntico arranjo de promessas e boas intenções. Só que, no fim, o fluxo da energia, migra só para o bolso deles.

Se utilizarmos um pouco mais a razão e menos a emoção para tentar descobrir as verdadeiras causas dos fenômenos que nos rodeiam, poderemos mudar essa história e fazer, não só nessas eleições, mas em toda a nossa vida, uma escolha melhor. Do contrário, só me resta desejar a todos: “boa sorte e muita energia”.

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