A frase acima é o slogan de uma conhecida seita religiosa. Em folhetos distribuídos nos cruzamentos das grandes avenidas ou em cartazes colocados nas fachadas dos seus templos é impossível não se localizar em alguma das condições de sofrimento que eles relacionam. Vai de doenças físicas a psíquicas, passando por problemas sociais como crises conjugais e desemprego. No final, oferecem a solução para esses males conclamando todos a participar de um culto religioso. Recebi um desses folhetos e por isso resolvi escrever algo sobre o significado psicológico do sofrimento.
Pode-se afirmar que todo o desenvolvimento que a humanidade alcançou desde o passado mais remoto até os dias atuais, incluindo todas as conquistas tecnológicas que hoje desfrutamos em todos os campos, deve-se ao sofrimento de nossos ancestrais. Sem sofrimento nada se desenvolve. O sofrimento é a base da transformação. Se o homem primitivo, não tivesse sofrido o peso de carregar suas provisões nas costas e não tivesse sentido o cansaço das longas caminhadas, não teria sido inventada a roda, nem teria sido descoberto o fogo. Se nestes tempos vivemos numa sociedade com um mínimo de paz entre povos e nações é graças aos massacres a que foram vítimas milhares de pessoas na idade média, numa época em que imperava a barbárie.
O sofrimento pessoal faz parte de nossas vidas e é até benéfico, pois nos faz crescer, desde que enfrentado com dignidade e consciência. Quando tomamos posse dos nossos sofrimentos, deixamos de ser a vítima indefesa e passamos a ser responsáveis por nós mesmos, resgatando a liberdade que Deus nos deu. Ocorre que existe uma tendência em querer localizar a causa dos males sempre fora e nunca dentro de nós. É mais fácil acreditar que não damos certo na vida, por culpa de outra pessoa, como o chefe, o patrão, o vizinho, o empregado, a sogra, os espíritos dos mortos ou o diabo. Ao acreditar que o mal vem de fora, estamos nos identificando como crianças indefesas e frágeis, carentes de instituições que nos defendam. Percebem por que as seitas crescem?
Existe uma fábula sobre o sofrimento que ajudou muito o governador Mário Covas a enfrentar seus problemas de saúde após uma cirurgia. É mais ou menos assim: Um homem observava uma lagarta tentando sair de um casulo e percebia que esta tinha dificuldades. Por mais que tentasse, o buraco do casulo era muito pequeno e não permitia que conseguisse sair. O homem ficou ali horas e horas acompanhando o sofrimento da lagarta, até que resolveu intervir. Com uma tesoura alargou o orifício do casulo fazendo com que a lagarta escorregasse livremente da sua prisão. Porém aquela lagarta saiu do casulo com o corpo mole e com as asas coladas não conseguindo abri-las. Ela jamais conseguiria voar, nunca seria uma borboleta. Estava condenada a viver como lagarta o resto de seus dias, pois aquele esforço que fazia ao tentar deixar o casulo, é que faria com que o fluído saísse de seu corpo e fosse para as asas. O homem compreendeu então que o seu gesto havia prejudicado definitivamente a vida daquela lagarta.
Conclusão: o sofrimento nem sempre é o terrível mal ou o diabo que deve ser banido e sim, na maioria das vezes, um momento da vida que temos que atravessar para avançar para um outro estágio que nos permite crescer e ser mais fortes. A questão então é escolher se queremos ser lagartas ou borboletas.
Excelente texto. As pessoas não querem sofrer, por isso tem crescido vertiginosamente o uso abusivo de ansiolíticos. Sofrer é preciso, é uma etapa do crescimento e do amadurecimento. Adorei seu texto. Obrigado!