A mancha que apareceu no vidro de uma janela em Ferraz de Vasconcelos, mobilizou toda a imprensa e atraiu milhares de pessoas ao local. O fato aconteceu no dia 14 de julho, por volta das 8h30, quando duas crianças: Alan José da Rosa, 8, e seu primo João Fagner de Jesus, 10 repararam em uma “mancha estranha” no vidro da janela, enquanto brincavam. (conforme Jornal Folha de S.Paulo de 19/07/02)
Os donos da casa, o casal Ana Maria de Jesus Rosa, 32 e Antônio José da Rosa, 38, católicos e devotos de Nossa Senhora interpretaram a mancha como um sinal divino.
Uma comissão nomeada pela Diocese de Mogi das Cruzes composta por físicos, químicos, teólogos católicos e parapsicólogos fariam a análise do vidro onde apareceu a suposta imagem.
Ainda não foi apresentada explicação científica para o fenômeno, pelo menos até o momento em que escrevo este artigo, mas ao que tudo indica, não parece ser milagre e sim um fenômeno normal causado por uma reação química no vidro.
Alguns pesquisadores da religiosidade popular chamam os fenômenos como o acontecido em Ferraz de “simulacrum”, ou seja quando uma forma abstrata produz uma impressão, nas pessoas que a vêem, e são interpretadas de uma forma reconhecível. São muito comuns e podem ser achadas em estruturas naturais e artificiais. Isto ocorre porque o ser humano tenta interpretar e criar sentido para todas as formas que vê. Às vezes enxergamos carneirinhos quando olhamos para as nuvens que se formam ao acaso.
É verdade que a mancha se parece muito com a silhueta de uma santa recoberta por um manto, mas também poderíamos achar parecidas com uma mulher muçulmana com um véu na cabeça ou com o dedão de um pé. As variadas formas de percepção estão intimamente ligadas a nossa motivação interior.
Para mim, contudo, o verdadeiro fenômeno que passou despercebido pela imprensa e que merecia ser analisado é a comoção que o fato provocou. O local já recebeu a visita de mais de cinqüenta mil pessoas e virou centro de peregrinação com pessoas vindas do interior do estado e do país.
Estudiosos do assunto como o Padre Quevedo estão certos ao recomendarem cuidado para que não se pratique idolatria. Deve-se aguardar os exames científicos antes de adorar a imagem.
O problema é como dizer isso a uma multidão cansada, sofrida, desacreditada na justiça dos homens e com poucas esperanças de poder alcançar os seus merecimentos aqui na terra.
O povo está sedento de uma experiência religiosa autêntica e tenta, desesperadamente, saciar sua fome. O povo tem fome de Deus.
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