Não sou comentarista esportivo, mas como psicólogo, me atrevo a tecer alguns comentários sobre o fracasso da Seleção brasileira de futebol nos gramados alemães, com o objetivo de ampliar a discussão para tentar compreender e aprender um pouco mais sobre a complexidade do ser humano e refletir a questão do desempenho grupal em qualquer atividade.
Parece óbvio esperar que se juntarmos os melhores jogadores em cada posição, teremos um super time capaz de liquidar com os adversários e conquistar o posto máximo em qualquer competição. Teoricamente, isso é uma verdade, mas a causa do fracasso, não estava no campo e sim na mente dos nossos jogadores.
Pensem no intenso marketing que fizeram em torno de cada um deles, com a mídia tratando-os como se fossem o dream team, suas imagens exploradas em comerciais de TV. O palco estava montado para um show hollywoodiano.
Criou-se uma expectativa em toda a nação de que o hexa estava garantido, era só preparar a festa e comemorar. A psicologia da Motivação, que enche o bolso de palestrantes, com discursos baratos do tipo: você pode, você consegue, foi a abordagem psicológica utilizada pela comissão técnica jogando fora séculos de pesquisa científica séria a respeito do inconsciente. Ficou provado que quando a motivação é demais, ela se transforma em ansiedade.
A seleção perdeu por causa do medo. Não o medo dos adversários, mas o medo de si mesmos. O medo de não corresponderem a tantas expectativas. O medo de não conseguirem ser os “deuses” que neles foram projetados. Tanta inflação do ego, não trabalhada, foi, sem dúvida, a causa do fracasso, transformando o quadrado mágico em “quadrado trágico”.
Devemos saber que em qualquer atividade seja individual, seja coletiva, a derrota é coisa certa quando nos identificamos como mitos revestidos de glória e nos embebemos de arrogância.
Faltou uma psicologia capaz de tirá-los das nuvens e traze-los de volta à terra, mostrando a cada um deles o seu próprio passado, a infância pobre. Faltou dar a eles o direito de perder, mas perder com dignidade, como heróis de cabeça erguida, como fizeram argentinos, ingleses e portugueses.
Faltou refletir sobre uma pequena frase do gênesis: ”Pois tu és pó e ao pó tornarás”
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