O pito que o rei Juan Carlos da Espanha passou no presidente Hugo Chaves da Venezuela durante a última Conferência Ibero Americana, mandando-o calar a boca, ecoou pela imprensa do mundo inteiro e virou toque de celular e motivo de piadas.
¿Por qué no te callas? Perguntou o rei, para o espanto de todos os líderes que acompanhavam a tensa reunião. Em bom português poderia ser traduzido por: “Por você não cala a boca?”. Qual seria a resposta psicologicamente correta para a pergunta do rei?
A linguagem é o instrumento que diferencia o homem de outros animais. Sem a comunicação verbal, a inteligência humana não teria sentido. Quantas guerras foram declaradas, quantos governos foram derrubados e acordos de paz selados graças à palavras que foram bem ou mal ditas?
Quando o homem deixa de usar a linguagem devido à repressão, o corpo assume indevidamente, o papel comunicador. O famoso livro: O corpo fala de Pierre Gilles Weil, fez muito sucesso aproveitando esse tema. Mas o corpo não deveria se preocupar em “falar” porque essa função pertence à língua, um instrumento muito mais adequado e habilidoso.
O corpo fala quando o medo e a repressão inibem a voz. O corpo fala de maneira neurótica quando não há mais recursos.
Devemos falar sobre nossos sentimentos, comunicar nossa raiva, expressar nossos desejos, dar a nossa opinião, expressar nosso pensamento, ainda que isso descontente alguém, ainda que isso provoque repulsa.
A injustiça se dá muitas vezes porque alguém se calou e a liberdade se faz, quase sempre pela coragem de alguém que ousou falar o que sabe.
Mas é preciso aproveitar a linguagem para dizer coisas sérias, para traduzir sentimentos e emoções. Quantas situações desagradáveis teriam sido evitadas com um simples: “Eu te amo”, “Eu te perdôo” vindos do fundo do coração?
A palavra pronunciada na hora certa é o passaporte que nos eleva à condição de seres humanos. A melhor resposta para a pergunta do rei seria: Porque sou humano e tenho língua e através da linguagem, podemos discutir e nos entender.
Deixe um comentário