Depois de receber vários de telefonemas sobre Regressão de Idade, volto ao tema nesta coluna, desta vez discutindo um pouco sobre Terapia de Regressão a Vidas Passadas, a chamada (TVP). Essa modalidade de terapia ganhou destaque no Brasil na última década, impulsionada pelo livro do americano Brian Weismann: Muitas vidas, muitos mestres e também porque o tema das vidas passadas é amplamente explorado na TV, como o foi na novela A viagem que fez muito sucesso na época. Infelizmente, o povo confunde ciência com arte e se influencia muito com o que vê na telinha.
Muitos dos que me ligaram, embora cristãos, me pediam regressão a vidas passadas o que é no mínimo contraditório pois o cristão católico professa o seguinte credo: (“…Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na Comunhão dos Santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna..”). Muitas pessoas não se dão conta disso e traem com gestos e intenções, aquilo que prometeram em palavras.
Mas existem duas questões que intrigam e que vamos tentar responder: 1) por que muitas pessoas dizem se curar fazendo TVP? 2) Ela é inofensiva? A resposta para a primeira pergunta é a seguinte. A cura de um sintoma neurótico não depende necessariamente da elaboração de sua causa real. A nossa mente possui uma função chamada de transcendente. Essa função trabalha com conteúdos simbólicos. O que importa é o símbolo que o inconsciente cria. Esse símbolo quando é dotado de força suficiente pode eliminar a energia do sintoma fazendo-o desaparecer. Parece complicado mas vou dar um exemplo disso: Imaginemos que uma pessoa sofra de dor de garganta de origem nervosa ou seja, sem causa orgânica. Submetida a uma TVP, o terapeuta lhe pede que volte no tempo para além do seu nascimento. A pessoa, em estado de transe, começa a elaborar uma história que tem muito a ver com os sintomas de dor de garganta. Essa história poderia ser a de que tinha vivido na época da revolução francesa e teve o pescoço levado à guilhotina por ser contra as forças revolucionárias. Pronto! estava descoberto o motivo de tanta dor de garganta. A pessoa em questão poderia jurar que não inventou essa história, mas a mente inconsciente possui o talento dos melhores dramaturgos para criá-la. Essa é a função transcendente que cria uma história simbólica que pode resolver o problema atual. Isso, no entanto, não prova que a pessoa viveu tal vida. É apenas uma maneira simbólica que o inconsciente usou para eliminar um sintoma. E quanto a segunda pergunta, seria inofensiva se não houvesse a sugestão por parte do terapeuta, ou seja se fosse criada espontaneamente como acontece nos sonhos. Mas não é o caso pois a premissa do terapeuta é que a causa do problema não é desta vida. O paciente foi induzido inconscientemente a acreditar que viveu uma vida anterior a esta. Resolve-se um problema psicológico e cria-se um outro espiritual, pois a questão passa a ser: para onde irei depois desta vida? A ressurreição já não é mais a resposta. Não Acho que esta seja uma questão menor. Mexeu-se num dogma de fé e isso não é pouco. Deu-se uma resposta racional a uma questão espiritual.
O mesmo não acontece com a regressão normal até a vida intra-uterina, pois para esta existe, de fato, um acontecimento real ou seja, que todo mundo descende de um útero materno, disso ninguém tem dúvidas. Nosso psiquismo possui uma memória em que os fatos esquecidos ou reprimidos, ficam armazenados, podendo ser evocados espontaneamente através dos sonhos ou através de técnicas psicológicas como a regressão de Idade, entre outras. Mesmo assim, é preciso muita cautela por parte do terapeuta em analisar os conteúdos evocados durante um transe pois nem tudo pode ser aceito como verdadeiro. Existem memórias de molestações e até de estupros fantasiadas por certos pacientes que têm que ser entendidas de maneira simbólica e não concreta.
Como vimos, é bom saber que quando se escolhe uma modalidade de terapia, em muitos casos, não estamos escolhendo o sabor de uma pizza. Estamos confirmando ou negando em poucas horas um dogma de fé instituído há mais dois mil anos. Portanto: cuidado!
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