“Minha vida não tem sentido, acho que não gostam de mim, não sou valorizado no meu trabalho, as pessoas não me entendem, tudo dá errado comigo”. Quantos de nós nos comportamos como crianças queixosas e expressamos sentimentos de auto-piedade visando atrair a compreensão e o consolo de quem nos ouve?
As queixas de um adulto depressivo revelam sentimentos negativos de ordem psíquica como dúvidas perturbadoras, medos exagerados, fobias, imaginações desagradáveis, preocupações com saúde ou de ordem somática como dores em todos os lugares do corpo, cansaço, alergias, falta de ar, nevralgias, etc. Tudo é sentido como real, mas são manifestações neuróticas da criança interna. A hipnose através da autossugestão já demonstrou o quanto a imaginação humana é capaz de produzir em termos de fenômenos corporais.
Porque nos queixamos? Queixar-se é a manifestação visível do sentimento de tristeza e autopiedade. A autopiedade, por sua vez, é um mecanismo de defesa dos mais importantes. Através da queixa a pessoa invoca várias vezes a causa de sua autopiedade. Esse comportamento de vítima gera certo conforto à pessoa que sofre, além de atrair para si a atenção do outro num comportamento regressivo que lembra muito a busca da criança pelo afeto.
O outro se transforma, então na mãe, na psicóloga, no médico, na enfermeira, etc. E por mais que tente, nunca conseguirá consolar a “criança” que insiste em se queixar das mesmas coisas de sempre. Nada está ou estará totalmente bom para ela, pois, em última análise não é um adulto inteligente e racional que está se queixando e sim a criança dramática.
A autopiedade não está ligada às condições externas. É possível que uma pessoa de fé que frequenta a igreja, em ótima situação financeira, bem casada, com filhos maravilhosos e cheia de amigos, ainda se sinta infeliz e reclame de seus infortúnios. Quem nunca sentiu a neurose do feriado ou a depressão do domingo a tarde? Depois de uma overdose de felicidade vem a melancolia ao cair da tarde. São sintomas que evocam os sentimentos de tristeza da criança interna que se sente só e desprotegida quando perde o afeto.
Existe, pois, dentro de nós uma criança que ainda não cresceu, embora sejamos adultos. Provavelmente esta seja a base da maioria dos problemas emocionais e está presente em quase todas as queixas que levam o indivíduo a buscar ajuda psicológica.
Podemos fazer uma auto-observação e tentar encontrar a criança dentro de nós. Basta analisarmos nossas queixas e identificarmos os sentimentos onde nos colocamos exageradamente como vítimas indefesas. Isto feito, podemos “conversar” com esta criança, dramatizando as suas queixas e corrigindo corajosamente as nossas atitudes infantis. Porque estou reclamando? Será que isto é realmente um problema?
Devemos aprender a tomar posse das nossas dificuldades, do nosso sofrimento e evitar o pensamento negativo que só atrapalha a nossa vida conduzindo-nos a uma visão de autopiedade. O sofrimento pode ser um caminho de cura e libertação que nos leva a conhecer o melhor de nós mesmos.
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